Acreditar no retorno do Oasis é como o deus Nimb jogar dados viciados de caos, azar, sorte e acaso para os irmãos Gallagher?

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Esta crônica descreve como o retorno do Oasis pode ser um choque para este ex-futuro fã da banda

Não me lembro por que fazíamos isso, mas todo clipe que passava na televisão e gostávamos era motivo para colocar a fita cassete (ou VHS, para ser mais exato, mesmo que não faça diferença porque poucas pessoas vão saber do que se trata) e gravar. Por ser mais velha, minha irmã ocupava o maior espaço da fita. Tínhamos duas ou três fitas no máximo, o que não era uma problema porque geralmente gostávamos das mesmas bandas e músicas.

Existem diversos clipes que permeiam meu imaginário e, modéstia à parte, posso garantir que a minha memória é ótima, mas tem um, em particular, que sempre mexeu comigo. Claro que só hoje consigo entender como esse acúmulo de capitais culturais formaram quem sou, 50% disso por influência da música ou do movimento musical, não sei dizer ao certo. 

Vamos lá: o clipe era preto e branco, no centro da tela uma vitrola (se você não sabe o que é fita cassete provavelmente também nunca viu vitrola funcionando), um palhaço caminha da extremidade lateral até o centro da sala, foco nos botões da vitrola, ele desce a agulha e começa a rodar um vinil do Oasis, na sequência entra Noel Gallagher tocando Wonderwall, um carrossel de imagens nonsense, Liam Gallagher com seu cabelo de cuia, óculos redondos, braços sempre para trás, uma voz característica.

Aprendi aquela canção de quatro acordes simples e implorei aos meus pais um violão de aniversário. O ano, bem distante de 2024, a calvície ainda não tinha me encontrado, fazia questão de pentear os cabelos para baixo e tentar me parecer ao máximo com os irmãos Gallagher. Por meses me vesti exatamente igual, usei óculos escuros em momentos inadequados, mantive o mesmo queixo erguido de Liam. Existia algo diferente naquele movimento e estilo do rock britânico. A contravenção era mais calada, um pouco tímida, com um certo ar de superioridade, mas a essência de bomba-relógio era evidente, como se a qualquer momento uma guitarra voasse ou um amplificador pulasse pela janela, algo que se repetiu inúmeras vezes na história do Oasis.

Em uma discussão sobre música, algum primo mais velho comentou: “Oasis é maior que os Beatles. Oasis hoje é a maior banda britânica da história”. Essa afirmação explodiu espoletas delicadas na minha cabeça. O Oasis esteve em todas as mídias que consumia, lembro dos meus pais assistirem televisão e meu pai dizer algo como “estão falando daquela banda que você gosta”. Estavam  mesmo e era 2009. Depois de umas 10 brigas intensas a banda acabou.

Veja bem, Oasis ser a maior banda britânica da história não foi uma afirmação minha e esse assunto cabe em outro texto, até porque precisamos falar sobre Radiohead e The Who em algum momento.

Existem inúmeras histórias sobre a briga dos irmãos Gallagher. Instrumentos atirados contra o outro durante shows, um MTV Unplugged não gravado, taco de críquete como espada, xingamentos, ofensas, turnê cancelada. Não era só uma briga boba entre irmãos que possuem uma fita VHS dividida, o Oasis tinha chegado ao fim. Eu, automaticamente, passei a ignorar a banda. Um dia durante um dos divertidos programas da 89 Rádio Rock de Goiânia, escuto o Alfrito dizer “Oasis vai voltar”. A primeira sensação foi de que não daria certo, não tem como dar certo, os dois não se gostam, nunca se gostaram. 

Segundo a conjectura da imprensa britânica, os irmãos Gallagher podem arrecadar R$2,9 bilhões. Cada um deles pode colocar cerca de R$ 360 milhões na conta bancária. Quando olhei os números, as especulações, a história das brigas, decidi lançar para o universo um importante conselho que meu amigo Álvaro Cardoso (de novo ele, o Alfrito) ofereceu gratuitamente, na boca miúda: “eles só não podem ensaiar juntos. Só compro se tiver um seguro ingresso”.

Torço pelo retorno do Oasis, mas como em um bom e velho jogo de azar, temo que qualquer dado com face errada ou carta de naipe duvidoso apareça e nos leve a um remake de fim… pela décima vez.

Breno Magalhães é jornalista e locutor da 89 Rádio Rock de Goiânia, músico frustrado e cineasta de fita crepe.